O nosso relacionamento com o mundo é feito, em 80% das vezes, por meio da visão. Apesar da importância desse sentido e de todo o avanço no tratamento do diabetes, a doença ainda é causa de cegueira em parcela considerável da população e 20% dos diabéticos desconhecem a relação entre diabetes e visão.
A principal razão da perda de visão no diabético é o fato de a doença ter uma evolução silenciosa, o que desestimula a procura pelo auxílio clínico. Em contrapartida, há a constatação animadora de que 95% dos casos de perda de visão são preveníveis e daqui para frente falaremos apenas em como preservar a sua visão.
Estudos recentes mostram que diabéticos com bom controle metabólico têm chance 10 vezes superior de manter uma boa visão do que indivíduos mal controlados. Esse é o fator isolado mais importante para a preservação da visão.
Uma queixa comum dos diabéticos é a flutuação da visão, ora boa, ora ruim, que muito provavelmente está relacionada a grandes oscilações da glicemia. O açúcar não varia apenas no sangue, mas nos líquidos corpóreos como um todo. No olho ele provoca refração (grau de óculos). Realizar exame de óculos com a glicemia controlada é um cuidado importantíssimo.
Nas crianças temos um outro componente importante, pois é até os 7 anos de idade que “aprendemos a enxergar” e uma visão clara ajuda esse desenvolvimento. Nessa fase é importante verificar quanto enxergamos e se os dois olhos estão se desenvolvendo igualmente.
Testes, em casa, ocluindo um olho e comparando a visão dos olhos individualmente, podem alertar os pais da necessidade da procura de um Especialista. Não existe limite de idade para procurá-lo e se constatarmos ou tivermos dúvidas sobre quanto a criança enxerga devemos levá-la obrigatoriamente a um especialista.
De todas as alterações oculares relacionadas ao diabetes é a retinopatia a mais temida. A retina é como uma película que recobre o olho por dentro capaz de transformar a luz em estímulo elétrico, que é a forma como o cérebro entende as mensagens captadas pelos nervos. Em sua parte central, ocupando menos de 5% de toda a sua superfície, está a mácula. Esse ponto da retina, que tem um nome especial, é o local onde temos a visão central. Somente se ela estiver afetada é que perceberemos o avanço da retinopatia diabética (conjunto de alterações vasculares da retina provocados pelo diabetes). Ou seja, se a alteração ocorrer nos outros 95% da área da retina não iremos perceber.
Agora entendemos a palavra “silenciosa” colocada acima. Somente um exame preventivo de fundo de olho com as pupilas dilatadas (mapeamento de retina) nos dará tranqüilidade de uma avaliação precisa e correta da nossa saúde ocular. Esse exame é classificado como obrigatório uma vez ao ano em toda pessoa com diabetes.
A classificação atual da retinopatia diabética é derivada de um estudo chamado ETDRS (Early Treatment Diabetic Retinopathy Study) e baseada na chance de risco de perda de visão em 5 anos. Ela é dividida em fases de retinopatia não proliferativa e proliferativa, onde as fases não proliferativas apresentam baixo índice de cegueira e nas fases proliferativas o tratamento com laser é necessário para evitar a evolução da perda de visão.
O laser previne a cegueira causada por retinopatia diabética por diminuir ou extinguir a formação de vasos anômalos na retina. Esses vasos causam hemorragias e descolamento tradicional da retina, que são as principais causas de cegueira pelo diabetes.
O tratamento com laser pode reduzir essa chance em aproximadamente 70% dos casos de forma isolada ou chegar a 90% quando associado ao controle glicêmico. Quando ocorre o descolamento da retina, torna-se necessária a indicação de tratamentos cirúrgicos longos, onerosos e de prognóstico reservado.
Alguns fatores podem influenciar na gravidade com que o diabetes atinge o olho:-
Pressão arterial – Níveis pressóricos normais auxiliam um bom controle da pressão arterial, principalmente a diastólica (pressão arterial mínima), está relacionado ao desenvolvimento de nefropatia (albuminúria), angiopatia e retinopatia, dobrando o risco de perda visual.
Neuropatia – As complicações estão relacionadas às alterações da pressão arterial, tanto para mais como para menos, decorrentes da neuropatia.
Genética – Estudos epidemiológicos evidenciam a importância de fatores genéticos na determinação, evolução e prognóstico da retinopatia diabética. A presença do haplotipo HLADR8 está associada a uma freqüência 5 vezes maior de retinopatia.
Graças a todos os estudos realizados nas últimas três décadas, o conhecimento clínico formou bases sólidas para o desenvolvimento de padrões de prática preferencial para o tratamento do diabetes no olho. Dessa maneira, podemos preservar a visão por toda vida na grande maioria das pessoas conscientes dessa doença, que estão cada vez mais superando os seus obstáculos, tendo uma vida longa e, o mais importante, com qualidade.
Fonte: Revista “Viva Melhor A1C<7” – Publicação da Aventis Pharma Ltda.
O Optometrista verificando a presença de alterações devido a diabete, encaminha o paciente para o Especialista em retina.
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